Fundações: Mais de 5000 Anos de História

Fundações: Mais de 5000 Anos de História

Ao longo do tempo, a evolução da engenharia geotécnica tem desempenhado um importante papel no desenvolvimento de civilizações e na construção de estruturas capazes de resistirem a várias gerações. Até o século XVIII, a engenharia geotécnica era em grande parte fundamentada em práticas empíricas e experimentação por tentativa e erro. No entanto, essa abordagem não impediu a humanidade de avançar notavelmente na construção de obras icônicas, que surpreendem pela sua complexidade.
Pirâmides de Gizé. Fundações: Mais de 5000 Anos de História

Figura 1 – Pirâmides de Gizé.

Já no início das primeiras civilizações, como a mesopotâmia, egípcia e indiana, a compreensão das interações solo-estrutura rapidamente surgiu, adotando práticas como a compactação do solo usando níveis específicos de umidade e a inclusão de palha para reduzir grandes recalques. Essas técnicas rudimentares, tiveram profundo impacto no desenvolvimento das infraestruturas em que eram implementadas.

O registro histórico atribui à antiga Babilônia, sob o governo de Hamurabi, a introdução das primeiras regulamentações que governavam a estabilidade das estruturas, aplicando o princípio do “Olho por Olho” onde o colapso de uma construção que resultasse em fatalidades era punido com o mesmo destino para o construtor responsável. Inclusive, os sumérios reconheciam a relação entre uma fundação de qualidade e prosperidade, como evidenciado nos cilindros de Gudea: “Estabelecer as fundações do meu templo trará abundância imediata: os grandes campos se tornarão ricos para você, os diques e valas transbordarão para você, a água subirá para alturas nunca antes alcançadas pela água. Sob você, mais óleo do que nunca será derramado e mais lã do que nunca será pesada na Suméria”.

Cilindros de Gudea. Fundações: Mais de 5000 Anos de História

Figura 2 – Cilindros de Gudea.

No Egito, a responsabilidade pelo gabarito das fundações recaía diretamente sobre o faraó, que marcava os locais com areia branca, um símbolo de pureza, em um ritual meticuloso. O faraó Sesostris I, junto com o sumo sacerdote, demarcou pessoalmente a fundação do templo de Heliópolis. Evidenciando não só a importância técnica, mas também o prestígio necessário para carregar a responsabilidade de um processo tão importante.

Obelisco de Heliópolis. Fundações: Mais de 5000 Anos de História

Figura 3 – Obelisco de Heliópolis.

À medida que os milênios avançaram, a conscientização sobre a importância da fase inicial de uma obra se manteve. O arquiteto renascentista Philibert de L’Orme escreveu em um de seus muitos tratados: “O começo [de uma construção] é de tamanha importância que se os primeiros blocos da fundação não forem perfeitamente retos, posicionados, e nivelados, o resto da estrutura há de se deformar, com uma falha levando a muitas outras”. Esse entendimento ressaltava a necessidade de bases sólidas desde os primórdios da engenharia geotécnica até a era moderna.

Chatêau de Anet (Projeto de Philibert de L'Orme). Fundações: Mais de 5000 Anos de História

Figura 4 – Chatêau de Anet (Projeto de Philibert de L’Orme).

Independentemente das civilizações e culturas que floresceram e desapareceram, a capacidade do ser humano de moldar o ambiente que o rodeia através da engenharia geotécnica, tem desempenhado um papel crítico no desenvolvimento de sociedades e na construção de obras duradouras e seguras.


Avanços significativos foram alcançados através da aplicação de métodos científicos, tecnologia de ponta e materiais inovadores. A introdução de técnicas avançadas de investigação do solo, como ensaios geotécnicos e modelagem computacional, permitiu uma compreensão mais precisa das propriedades do solo e do comportamento estrutural. Isso possibilita aos engenheiros projetar fundações mais eficientes e adaptadas às condições específicas de cada local, resultando em estruturas mais seguras e sustentáveis.

Equipamento de monitoramento e recepção de dados do ensaio de fundações.

Figura 4 – Equipamento de monitoramento e recepção de dados do ensaio geotécnico.

Além disso, a utilização de materiais de construção mais robustos e resistentes, combinada com tecnologias avançadas de construção, tem contribuído para a criação de edifícios cada vez mais altos e complexos. Fundações profundas, como estacas e estacas de hélice contínua, tornaram-se práticas comuns em projetos que exigem suporte adicional devido a condições geotécnicas desafiadoras. A engenharia sísmica também desempenha um papel crucial na concepção de fundações capazes de resistir a terremotos, garantindo a segurança das estruturas em áreas propensas a atividades sísmicas.

Perfuratriz Hélice Contínua Monitorada em obra de fundação.

Figura 5 – Perfuratriz Hélice Contínua Monitorada.

A sustentabilidade tornou-se uma consideração central na engenharia geotécnica contemporânea, incentivando o desenvolvimento de fundações ecoeficientes e práticas construtivas de baixo impacto ambiental. A integração de tecnologias como a monitorização remota e sensores geotécnicos permite o acompanhamento em tempo real do comportamento das fundações, garantindo uma resposta rápida a quaisquer anomalias e contribuindo para a manutenção a longo prazo da estabilidade estrutural.

Gráfico de monitoramento de estaca de fundação.

Figura 6 – Gráfico de monitoramento de estaca.

Portanto, a engenharia geotécnica nos dias atuais continua a evoluir, incorporando inovações tecnológicas e práticas sustentáveis para enfrentar os desafios contemporâneos. A busca por fundações mais eficientes, seguras e adaptáveis reflete o compromisso contínuo da engenharia em atender às demandas da sociedade moderna e garantir a durabilidade das construções ao longo do tempo.

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